Ando me chocando… não. Assustando. Me assustando e me surpreendendo com os fatos e acontecimentos do dia a dia. Muitas vezes com o bem ( quando apenas os pássaros cantam na sua janela e você sabe que o dia pode ser perfeito). Outras com o mal ( como quando ser bom parece tão distante e vida alheia tão insignificante).
Constantemente, minha vontade é gritar. Algumas, a necessidade é de se esconder. Medo. Choque. O que estaria havendo comigo, contigo, com a vida?
O coração já parece pequeno pra tanto sentimento. A imaginação já não supera o universo da mente, porque as coisas estão realmente acontecendo.
Aquilo de sermos tudo e não sermos nada. O bem e o mal, dentro de cada um. Estaria um ficando maior que o outro? E seria o bem o vencedor?
Espero que gritar não seja a única saída e se esconder seja pra ninguém, não só para os fracos.
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.        
Tempo de absoluta depuração.         
Tempo em que não se diz mais: meu amor.         
Porque o amor resultou inútil.         
E os olhos não choram.         
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.         
E o coração está seco.         
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.         
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,         
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.         
És todo certeza, já não sabes sofrer.         
E nada esperas de teus amigos.         
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?         
Teu ombros suportam o mundo         
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.         
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios         
provam apenas que a vida prossegue         
e nem todos se libertaram ainda.         
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,         
prefeririam (os delicados) morrer.         
Chegou um tempo em que não adianta morrer.         
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.         
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
 
 
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