quinta-feira, maio 17, 2018

Obitando a mente.

Desde sexta-feita (11 de maio) que ao mesmo tempo em que me vi num filme de drama cult também não parei pra sentir a situação. Começo a achar que cada vez que repito que a minha mãe morreu é para o meu próprio convencimento. Ontem, ao acordar, lembrei de tudo o que tinha que fazer e pedi a tal força que todos têm me desejado desde o velório. Falei com Deus, deitei na cama da minha mãe e falei com ela também. Pedi um help para os dois. Aí saí para os afazeres cujo primeiro seria ir ao cartório de registro para registar a certidão de óbito da mamãe. Nem nos meus piores pesadelos eu me imaginei nessa situação, vivendo esse dia. Enquanto caminhava até o cartório fiquei pensando nos filmes de terror que já assisti. 'Todos fichinha', acabei até falando em voz alta (há tempos que os pensamentos saem em voz alta e eu já não me importo se tem alguém olhando). Chego a ousar que dificilmente nesta vida algum filme vai me fazer perder o sono de novo. Tomara que sim porque aí eu estarei perdendo o sono por uma fantasia e não por causa das realidades como tem sido ultimamente. Tá, divaguei. Voltando ao assunto, cheguei no cartório. Peguei a senha, sentei e na falta do que fazer comecei a pensar em várias coisas. Loucura a andança da vida. Sentados estavam casais que iriam casar, mamães com bebês que acabaram de nascer pra registrar e uma ou duas pessoas num mesmo momentinho que eu, tratando de morte. Tudo ali, no mesmo rolê. Minha senha foi chamada e enquanto a funcionária pegava documentos da minha mãe e registrava tudo pensei: 'Olha que coisa, minha mãe já teve certidão de nascimento, certidão de casamento e agora vai ter uma de óbito. Ela vai deixar de ser várias coisas e vai ser só um papel'. Pensei isso porque a funcionária me disse que depois de várias burocracias, na maior parte dos lugares, o único documento que vai interessar é a certidão de óbito dela. Quando obviamente estava começando a chorar (que no meu caso flui naturalmente) fui interrompida por perguntas pessoais da funcionária. Achei da hora porque parei de pensar e pude falar da minha mãe viva. Coisa boa. Até sorri. Uma tarefa finalizada. Uma burocracia a menos e um lugar a menos para ter que 'obitar' oficialmente a minha mãe.

terça-feira, maio 15, 2018

Sobre o pior dia da minha vida

Há tempos que escrevo cada vez mais esporadicamente aqui no meu cantinho. Mas pelo menos, cada vez que voltava, eu até que estava diferente mas a vida parecia a mesma. A última vez em que passei por aqui foi em janeiro do ano passado (2017). Ao voltar sinto um frio na barriga pelo que vou escrever porque ainda custo acreditar. Estou voltando a escrever aqui pra tentar colocar pra fora alguma coisa que diminua a perturbação que está sendo ter perdido a minha mãe.
Desde sábado (12), dia seguinte ao seu falecimento tudo está estranho. A impressão que eu tenho é que tudo caminha menos eu. Sinto-me em rotação lenta. Tento não parar pra pensar pra ver se ando como a vida está andando mas não adianta. Minha mente não acompanha. Ainda não consigo interpretar o que estou sentindo. Poderia dizer que é um vazio mas eu sinto algo. Poderia dizer que é saudade mas eu ainda não acredito que ela foi embora. Então é tudo confuso. Desde ontem tenho lido sobre luto e coisas afins mas não me identifico com nada. Não sei se estou em luto. Acho que não deu tempo. A vida, aquela que minha mãe perdeu, não me dá tempo. Não me dá tempo de processar nada porque ela, a vida não para mesmo. Ao menos para a minha mãe que aparentemente parou. Continuo repetindo, é confuso. Tanto que estou escrevendo sem pensar duas vezes porque tudo o que está saindo do teclado sai sem filtro, sai sem nexo, sai sem freio. Pretendo escrever mais pra quem sabe entender algo. Pra quem sabe entender o que eu sinto se é que sinto. Pretendo escrever pra colocar pra fora porque até o exato momento ainda não consegui falar com sinceridade pra ninguém a respeito do que estou sentindo. A vida, aquela que minha mãe perdeu, também não me deu essa oportunidade ainda. Por enquanto eu tenho que ser forte. É só o que eu ouço. Parece que é o que tenho que ser. A vida segue já eu não sei.